O setor de transporte rodoviário de cargas do Brasil possui relevante representatividade nas atividades econômicas do país. Segundo divulgação deste mês do Produto Interno Bruto (PIB), os dois principais destaques do crescimento econômico de 2021 foram o setor de transporte, armazenagem e correio — crescimento de 11,4% — e a atividade de informação e comunicação (12,3%), em especial, pela ampliação ao acesso à internet e desenvolvimento de sistemas.

Mas como esse crescimento, em especial do setor de transporte de cargas, pode impulsionar a logística brasileira a buscar formas de estar em linha com os objetivos da agenda ESG (ambiental, social e de governança, em inglês), já que esse é um movimento que precisa estar presente em todas as esferas da economia e da sociedade?

Dentro de um plano de ESG corporativo, há uma série de expectativas que são criadas: compromissos públicos construídos com consultas aos stakeholders, metodologia para implementação, acompanhamento e divulgação de resultados, relatório de sustentabilidade com resultados nas esferas econômica, ambiental, social e de governança.

Mas é preciso que estejam claros os benefícios de curto, médio e longo prazo que as estratégias ESG trarão ao negócio, e a alta direção precisa estar comprometida com o tema e viabilizar a inclusão dessa agenda na gestão cotidiana do negócio.

Uma das frentes que um plano ESG corporativo pode abordar é o relatório de emissões utilizando a metodologia do Programa GHG Protocol que permite inventariar as emissões de carbono equivalente em três escopos do negócio: escopo 1 — emissões diretas da operação da organização, escopo 2 — emissões indiretas da organização provenientes da energia elétrica adquirida para uso na própria organização e, escopo 3 — emissões indiretas (não incluídas no escopo 2) que ocorrem na cadeia de valor da organização.

O fato das emissões tipo 3 refletirem emissões da cadeia de valor onde as organizações podem não ter controle direto e ter baixa influência, geram desafios para inventariar, acessar dados e, por sua vez, fomentar a economia de baixo carbono. E é nesse ponto que a contribuição da operação logística pode acontecer nos transportes de cargas das fases de upstream e downstream.

O conceito de perspectiva de ciclo de vida do produto ou serviço deve ser considerado. Ou seja, é importante levar em conta todas as etapas da cadeia produtiva, passando por todos os elos à montante — extração, produção de matérias-primas, transportes, beneficiamentos — e à jusante — distribuição, consumo, fim de vida — dos produtos ou serviços do negócio.

Sabemos que já existem diversas oportunidades e tecnologias que avançam em prol da descarbonização no setor de transporte rodoviário de cargas, como a inserção do biometano e o biodiesel, ações de eletrificação (renovável) de frotas para redução de pegada de carbono na operação, uso de hidrogênio verde, entre outras.

Acontece que a implementação e habilitação de tecnologias verdes enfrentam uma barreira tecnológica e mercadológica, além do ganho de escala do uso de novas tecnologias. Haverá necessidade de substituição de frotas, disponibilização de infraestruturas específicas, incentivos, políticas públicas, pensar em descomissionamento tecnológico etc. E aí, questiono: o que já dá para fazer, para otimizar operações logísticas e contribuir para a descarbonização do setor?

A resposta de mais curto prazo que enxergo é a digitalização e o uso de bigdata para apoiar estratégias. Utilizando a lógica do Lean Manufacturing, do sistema Toyota de produção, podem-se identificar oportunidades para redução de desperdício e converter as atividades não agregadoras de valor em atividades agregadoras no setor.

O uso de informações, a geração de conhecimento e a construção de estratégias utilizando bigdata de operações logísticas rodoviárias em todo país farão a diferença para o cumprimento das metas corporativas de neutralização ou redução de emissão de CO₂ equivalente.

Há uma série de oportunidades que a digitalização pode oferecer para reduzir a intensidade dessas emissões e aumentar a eficiência de operações logísticas, tais como:

  • Redução de deslocamento de veículos transportadores sem cargas/vazios (não agregação de valor): a quantidade de emissão de CO₂ por unidade de carga transportada será menor.
  • Melhoria de médias de consumo de combustível: utilizar-se de dados de médias ideais por trechos permite que programas de educação e orientação de condução possam ser direcionadas para redução de consumo de combustíveis (L/km) e consequente redução de emissão de CO₂ eq.
  • Deslocamento em rotas otimizadas por algoritmos: o uso de inteligência e roteirizadores permitem aumentar a eficiência de operação, e entregar mais valor (e cargas) com menos carbono emitido.
  • Otimização em processos operacionais de carregamentos/descarregamentos e inclusão de multimodais: O uso de tecnologias que modernizem o sistema e a gestão de transportes (TMS), que promovam a gestão e automação de terminais (TOS) e que controlem e gerenciem armazéns (WMS) proporcionam a redução de desperdícios, a otimização e operações, redução do custo logístico e tempo de espera em filas, que, no final do dia, se traduzem também em emissão de carbono evitada.

Os desafios consistem em mapear os dados setoriais e desperdícios operacionais, convertê-los em emissão de carbono evitada, criar e implementar as estratégias, e comunicar players e a cadeia de valor da operação logística.

E você, enxerga mais alguma estratégia de curto prazo que a digitalização pode trazer para descarbonizar a logística rodoviária e aumentar a eficiência de operações?

Por Cassiano Moro Piekarski.

Leopoldo Suarez

Leopoldo Suarez

Executive Director & Partner | nstech

One Comment

  • Francisco Frazão da Silva disse:

    Gostei muito desse traba trabalho! Me ajudou muito a ter outra visão em relação a logística, de transportes e logística reversa ! Colaborando diretamente cm o meio ambiente!

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